terça-feira, fevereiro 05, 2008

Comecar de Novo

Cheguei ha 2 semanas. Saí de Portugal sem grande vontade, confesso. É sempre assim quando se vai para mais uma grande mudanca. Nao é facil estar sempre a mudar. Comeca a faltar a coragem, comecamos a sentirmo-nos menos dispostos para o fazer. A viagem correu bem, curta e pontual. Á chegada tinha o meu chefe à minha espera, estilo comissao de boas vindas. Levou-me à sua casa, conheci o resto da familia, jantamos juntos. O que deu um ar familiar à minha chegada. Foi bom, para comecar. Mas entretanto ja se passaram uma data de dias e a coisa nao anda muito bem aqui para estes lados.

Isto de comecar de novo é dificil. Muito mesmo. Ja me tinha esquecido o quao dificil é. Quando nos acostumamos a uma situacao em que estamos confortaveis e felizes, temos tendencia de apagar os registos menos bons pelos quais passamos até atingirmos esse estado de seguranca. Creio que foi o que aconteceu comigo durante a minha estada nos States. Por muito que pense, nao me consigo lembrar o que passei até me sentir verdadeiramente confortavel. Tudo o que tenho na mente sao os bons momentos, as boas memorias que me dizem que valeu a pena todo o esforco.

Agora estou a passar por tudo outra vez e confesso que nao estou a gostar. Mais um país novo, mais uma nova empresa, mais um novo estilo de vida. Ainda por cima, com uma lingua nova. Sem ter ainda raizes, sinto-me com frequencia deslocado de tudo. Assim como quem sente que nao pertence a lado nenhum. Todos os sons me sao estranhos, nenhuma das palavras me diz o que quer que seja. Os dias sucedem-se sem grandes diferencas, sem grande interesse, sem nada de muito novo a relatar. E depois, é claro que nao consigo deixar de fazer comparacoes – com o que fiz, vi ou senti nos States ou em Portugal. O que nao ajuda, eu sei. Mas nao ha como evitar. Eu, pelo menos, nao sei como o fazer.

No trabalho, tambem a adaptacao nao tem sido facil. Estou agora a fazer algo que ja nao fazia activamente há cerca de 2 anos, embora o saiba fazer. É algo que exige bastante de mim, ainda para mais quando nao se sabe quem é quem, a quem fazer as perguntas correctas, quando ser mais ou menos duro. Isto ja para nao falar nas malditas expectativas que as pessoas (muitas delas sem me conhecerem de lado nenhum) criaram a meu respeito. É bom saber que as pessoas reconhecem e estimam o nosso trabalho, mas é um pau de dois bicos no que toca a novos desafios. Sinto-me um bocado a nadar, sem ter uma estrategia definida, sem saber muito bem para onde me dirigir e como la chegar.

O desconhecimento da lingua tambem é um factor que nao ajuda. O ingles nao é assim tao falado por aqui como as pessoas pensam. E quando o é, vejo-me obrigado a falar mau ingles, para me fazer entender. Fazer coisas simples, como ler rotulos de embalagens, ou ler sinais de transito para saber se é proibido estacinoar ou nao, tornam-se tarefas que tocam o transcendente. Na Tv as opcoes nao alemas resumem-se à BBC e à CNN, o que ao fim de meia hora comeca a fartar.
Acima de tudo acho que me sinto sozinho. Embora todos sejam muito simpaticos e amigaveis comigo, ha apenas alguns momentos em que me consigo abstrair deste estado. Falta-me o chegar a casa e poder estar ou falar com alguem. Os telefonemas ajudam, mas pela forca do custo, nunca podem ser muito longos. E nao ha nada que substitua o contacto humano – um olhar, um sorriso, um abraco...

Como veem, nao estou de facto muito bem. Ja por varias vezes me questionei se tomei a decisao correcta em ter vindo. Estava tao bem, o que é que eu fui fazer? "Entao e nao pensaste em tudo isso quando decidiste embaracar nisso?", podem perguntar. Em pensava que sim, mas como ja disse antes, nao me lembrava de isto ser assim. Julguei que ia ser pera doce – nao podia estar mais enganado...

Todos me dizem que é uma questao de tempo, que vai passar, que daqui a meses vou esquecer isto tudo.

Talvez. E até lá, faco o que?

Sem comentários: