terça-feira, fevereiro 13, 2007

Manhãs

7.15 am. O despertador toca estupidamente cedo, marcando com violencia o fim do silencio profundo de mais uma noite. Mecanicamente, sem pensar muito, acendo a luz. Ajuda-me a manter-me acordado, ajuda-me a alimentar a ideia de que 'Va' la', nao adormecas, tens que te levantar'. Dou mais uma volta, volto-me para o outro lado. No radio, o senhor da 93.9 The River, diz que esta frio la' fora - muitos negativos. E esta-se tao bem debaixo dos lencois... nao consigo deixar de sentir um conforto e uma seguranca tal, que aqueles breves intantes fazem com que o mundo pareca distante, onde apetece ficar, prolongando o momento que me envolve. Inevitavelmente, e a muito custo, la acabo por me levantar e encarar de frente mais um dia...

8.06 am. Preparo-me para enfrentar o frio. Cachecol, luvas, gorro, botas... a mesma rotina de sempre. Ponho a mochila as costas, abro a porta. Respiro fundo. O frio da manha entra-me pelas entrenhas, torna dificil o acto de respirar. Olho em volta. O branco da neve tem uma beleza encantadora, em especial em manhas de sol e ceu azul. Ha dias, porem, em que parece estarmos num filme a preto e branco, onde a cor e' reduzida a umas pinceladas aqui e ali, que cortam a monotonia da paisagem. Dirijo-me ate ao carro. O mesmo de sempre - gelo e neve cobrem os vidros. Ha que retira-los com a ajuda da espatula, companheira de todas as manhas, uma das melhores compras que aqui fiz ate' agora. Depois de muito esfregar, la me ponho a caminho. Radio com som alto, para despertar. Viagem curta, com musica animada para comecar bem o dia.

8.23 am. Ligo o portatil, abro o mail. Tenho em media mais de 20 mails para ler, e ainda nao sao 9 da manha. 'Vai ser um dia animado', penso. E normalmente nao me engano. Comeco na tarefa infinita de tentar responder a todos. Nao consigo. Comecam os telefonemas, vem a colega do lado perguntar 'Where can I find the...', aparece-nos o chefe de repente a perguntar se podemos preparar agora a reuniao de mais logo a tarde. Esforco-me por ir a todas, na tentativa de ajudar todos. Nao consigo. Ha sempre alguem que fica para tras, alguem de quem so me lembro 3 dias depois, alguem a quem me desfaco em desculpas por nao ter dado atencao mais cedo.

10.00 am. Reuniao. A primeira de muitas. Aqui reune-se muito. Por tudo. Por nada. Por coisas pequenas, por coisas grandes. Juntamo-nos todos numa sala, sem ligar a rankings - do fiel de armazem ao director de operacoes. Identificam-se problemas. Discutem-se causas. Descobrem-se falhas. Pretendem-se planos de accao. Elaboram-se documentos que nunca sao postos em pratica. Debato-me por prazos apertados, 'nao podemos continuar como estamos'. 'Nao, nao podemos ter prazos tao apertados, nao temos pessoas que cheguem'. Baixo as armas, mas nao desisto... espero por um momento mais oportuno. Marca-se mais uma reuniao, para a semana, mesmo horario, para avaliar o progresso. Que, na maioria das vezes, e' pouco. Mas pouco, e' melhor que nada.

10.53 am. Nova olhadela pelos e-mails, que nao param de aumentar. Estabeleco prioridades, apago os fogos mais urgentes, dou avanco aos projectos paralelos. Ha que testar a nova funcionalidade antes de a tornar efectiva. Se correr bem, funciona a' primeira. Se correr normalmente, precisa de uns ajustes. Pelo meio resolve-se mais uma duvida, escreve-se mais um mail sobre 'How to solve...'.

11.47 am. Pausa para o almoco. Sim, aqui almoca-se cedo. Outros ritmos, outras culturas, outros horarios. Nao interessa. O que interessa e' que sao 60 minutos de descompressao. 60 minutos so nossos, no meio do tempo que dedicamos aos outros. 60 minutos em que se conversa sobre o tempo, sobre a familia, sobre as diferencas entre a Europa e os EUA. 60 minutos que nos preparam para mais uma tarde intensa...

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