sábado, outubro 20, 2007

Musicas - IV

Ja que estou numa de musicas, resolvi partilhar mais um dos albuns que, de uma forma ou de outra, marcaram momentos criticos ou especiais do meu percurso. Um desses momentos, aconteceu ha precisamente 2 anos, a 17 de Outubro de 2005. Por forca de uma doenca rara e nem sempre bem aceite (por quem a tem) ou entendida (por quem esta de fora), vi-me obrigado a passar uma temporada no hospital. Foram os 10 dias mais dificeis da minha vida. Sempre fui muito 'maricas' com essas coisas de hospitais, agulhas, medicos e afins, pelo que a ideia de ter que me submeter a uma cirurgia que iria mudar para sempre o meu modo de vida, era no minimo aterradora. Mas nao era impossivel... e por isso aceitei o desafio de cabeca erguida... e coracao apertado.

Lembro-me da noite em que entrei... depois das despedidas da familia e depois de se ouvirem os eternos 'Vai correr tudo bem!' ou 'Isto e' para o teu bem!', ficamos so' nos e a imensidao e o branco frio do hospital. O tempo custa a passar, os minutos estendem-se largamente para alem dos sessenta segundos, os ponteiros do relogio nao avancam. Os pensamentos, esses passam todos e mais alguns pela mente, de forma abrupta, exagerada e precipitada - o que vai acontecer? Vou acordar amanha? Voltarei a ser o mesmo? Vai correr tudo bem? E se nao correr? Quem estara' por perto para apanhar os cacos?... Sao ideias que, a distancia, nos parecem absurdas. Mas sao reais e muito concretas, naquele momento...

No meio destes pensamentos todos, e enquanto bebia uma mistela horrenda, em preparacao para a operacao, o meu leitor de mp3 (que meses mais tarde seria roubado em Londres) tocava precisamente este album:



Nao sei porque. Moby nao e' dos meus musicos preferidos, embora goste bastante. As suas musicas nao sao propriamente profundas. Mas ha qualquer coisa neste album que fez com que me revisse nele, que encontrasse nas suas melodias uma sensacao estranha de bem estar. No meio das suas muitas musicas, afeicoei-me especialmente a esta, ja explico porque:





Ha nesta musica frases muito fortes... "Hold on to people, they're slipping away Hold on to this while it's slipping away (...) All that we needed tonight Are people who love us"... Nao ha nada de mais importante nestes momentos dificeis do que a presenca de quem nos quer bem. Muitas vezes pensa-se que uma pessoa em convalescenca nao precisa de visitas ou agitacao a' sua volta. Eu discordo. Todos aqueles que por la passaram para me visitar provavelmente nao sabem o significado que isso teve para mim, o quao importante foi... sabermos que somos queridos e amados pode ter resultados inesperados. E acima de tudo, mostra-nos que nao estamos sos. Ao mesmo tempo, isso fez-me ver a necessidade premente de nos achegarmos as pessoas, em especial as que nos estao proximas... o tempo foge-nos das maos a todo o instante, por isso temos que aproveitar cada minuto da melhor forma.

"Open to everything happy and sad / Seeing the good when it's all going bad / Seeing the sun when I can't really see / Hoping the sun will at least look at me" . Esta foi outra coisa que esta experiencia me ensinou - que temos que estar abertos as coisas positivas, mas tambem as negativas. Que e' preciso vermos o bom quando tudo a nossa volta parece cair aos bocados. Que e' preciso usarmos a nossa forca e nunca perder a esperanca de que as coisas vao melhorar no futuro... Falar e' facil, e isto nem sempre se consegue do pe' para a mao... mas vale a pena tentar. Aprendi a relativizar muita coisa, a nao dar imporancia aos pequenos nadas, a nao perder tempo com situaoes e pessoas que nao merecem. Porque, no fundo, o que interessa, e' que nunca percamos o 'Focus on everything better today'!

2 anos depois, de cada vez que oico esta musica, e' inevitavel nao pensar em todo este contexto. Mas nao com um sentido melancolico, pelo contrario. Oico-a com bastante prazer, faz-me sentir muito bem. 2 anos depois, felizmente nao tenho 'restos' do problema que deu origem a esta experiencia. 2 anos depois, estou onde nunca sonhei estar. E por tudo isso, 2 anos depois, sinto cada vez mais prazer nesta viagem atribulada e nem sempre segura, a que chamamos 'Viver'.

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